Dois discursos, um em Brasília pela manhã e outro em São Paulo, à tarde, marcaram a participação do presidente Jair Bolsonaro mas manifestações do 7 de Setembro convocadas por ele. Foram falas inflamadas, de teor golpista e que ajudam a elevar a temperatura da crise institucional que o próprio presidente criou e tem alimentado. Primeiro, em Brasília , ele não citou nomes, disse que "uma pessoa específica da região dos três poderes" estava "barbarizando" a população e fazendo "prisões políticas". E ainda mandou recado para Luiz Fux, presidente do STF: "ou o chefe desse poder enquadra o seu [ministro] ou esse poder pode sofrer aquilo que nós não queremos". Pois o "mistério" durou pouco. Horas mais tarde, na avenida Paulista , ele deu nome ao principal alvo: "qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou". Em frente a apoiadores, Bolsonaro também atacou governadores e prefeitos que tomaram medidas de combate ao coronavírus. Voltou a pedir o voto impresso e colocou em dúvida o sistema eleitoral brasileiro: "não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança". No fim do discurso, voltou a dizer que "só Deus o tira de lá [Presidência]". E que não vai ser preso: "[só saio] preso, morto ou com vitória". "Dizer aos canalhas que eu nunca serei preso." |
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Pois é Principal alvo de Bolsonaro, Alexandre de Moraes é responsável pelo inquérito que investiga o financiamento e organização de atos contra as instituições e a democracia e pelo qual já determinou prisões de aliados do presidente e de militantes bolsonaristas. Além disso, o ministro determinou a inclusão de Bolsonaro como investigado no inquérito das fake news e mandou investigar o presidente por vazamento de informações sigilosas da PF. E tem mais: Moares será presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano que vem, durante as eleições que Bolsonaro tanto tenta desacreditar. Em uma rede social, o ministro disse que "nesse Sete de Setembro, comemoramos nossa Independência, que garantiu nossa Liberdade e que somente se fortalece com absoluto respeito a Democracia". |
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Vale lembrar Os atos de hoje convocados por Bolsonaro aconteceram em meio a uma grave crise econômica e em um momento difícil para os brasileiros, com o litro da gasolina passando dos R$ 7 em vários estados, inflação em alta e desemprego acima dos 14%. Também antecederam os atos uma série de embates entre o presidente e o STF e a queda da popularidade de Bolsonaro nas pesquisas de opinião. Leia mais sobre o o contexto das manifestações do 7 de Setembro. |
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| Vacina, empregos e comidaProtestos contra Bolsonaro e a crise econômica também marcaram o feriado. As pessoas pediam impeachment, vacina, emprego e "comida no prato". O maior deles foi em SP, o Grito dos Excluídos, que acontece anualmente. |
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Bloqueio furadoNa noite de ontem, por volta das 20h, bolsonaristas furaram um bloqueio da Polícia Militar e invadiram a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. De acordo com o planejado, o esquema de segurança do governo do Distrito Federal não permitiria a entrada de veículos no local. Mas caminhoneiros (e manifestantes em geral) pressionaram policiais para ultrapassar o bloqueio e conseguir acesso. Grades de segurança ao longo da via foram retiradas pelo grupo. |
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Conselho da República Lá pelas tantas, no discurso de Brasília, pela manhã, Bolsonaro disse: "amanhã estarei no Conselho da República juntamente com ministros para nós, juntamente com o presidente da Câmara [Arthur Lira], do Senado [Rodrigo Pacheco] e do Supremo Tribunal Federal [Luiz Fux], com essa fotografia de vocês, mostrar para onde nós todos devemos ir". Pois é. O Conselho da República é um órgão comandado pelo presidente que tem, por definição, a prerrogativa de tratar de "intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio" e também de "questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas". Entenda. |
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Faltou combinar Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados disseram não ter conhecimento da reunião do Conselho da República anunciada para amanhã. E mais. Embora Bolsonaro tenha mencionado o STF, o tribunal não tem representante no conselho. Integram o órgão: ➡️ O vice-presidente da República ➡️ Os presidentes da Câmara e do Senado ➡️ Os líderes da minoria e da maioria da Câmara e do Senado ➡️ O ministro da Justiça ➡️ Seis cidadãos – dois escolhidos pelo presidente, dois pela Câmara e dois pelo Senado . |
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| E o Queiroz apareceuEx-assessor do senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz foi às ruas do Rio em apoio ao presidente. Queiroz, que é investigado no caso das "rachadinhas" e chegou a ser preso, foi tietado e posou para fotos. Também abraçou o deputado Otoni de Paula, investigado por atos contra a democracia. |
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Doria pede impeachment O governador de São Paulo, João Doria, manifestou-se pela primeira vez pelo impeachment de Bolsonaro. "Minha posição é pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro – depois do que ouvi hoje ele claramente afronta a Constituição", afirmou Doria. A executiva nacional do PSDB se reúne amanhã para definir oposição ao governo federal e discutir a posição do partido sobre um eventual pedido de impeachment. |
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Mídia estrangeira destaca 'prelúdio de golpe'Jornais de vários lugares do mundo publicaram textos em que explicaram o contexto em que acontecem as manifestações a favor do governo de Jair Bolsonaro. O "New York Times", por exemplo, diz que o presidente brasileiro tem enfrentado uma queda nas taxas de aprovação, uma economia que cambaleia e investigações judiciais e, nesse contexto, convocou as manifestações. Diz que os atos podem ser o prelúdio de uma tentativa de golpe. O "La Nación", da Argentina, escreveu que Bolsonaro promove uma "forte ameaça" à Justiça brasileira. A repercussão completa você confere aqui. |
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| Faixas em inglêsEm meio a mensagens inconstitucionais, chamaram a atenção cartazes em inglês. Muitas vezes com erros, diziam coisas como "Brazil says no Comunism" (Brasil diz não comunismo) e "Supreme court torn the constitution of Brazil" (A suprema corte rasgou a Constituição). Havia ainda frases em alemão, francês e italiano. |
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Balanço Até o fechamento desta newsletter, foram registrados protestos a favor do presidente em 179 cidades, incluindo todas as 27 capitais. Os atos contrários a Bolsonaro aconteceram em 84 cidades, sendo 26 capitais (a exceção foi Palmas). No G1, você confere, claro, todas as atualizações e o balanço final. |
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| | | O ASSUNTO No dia em que colocou o bloco na rua, escalou ameaças à democracia e disse que não vai seguir determinações de Alexandre de Moraes, o presidente da República "ensaiou as várias vias que pode seguir", avalia Maria Cristina Fernandes, convidada de Renata Lo Prete no episódio de amanhã. Colunista do jornal "Valor Econômico" e comentarista da Rádio CBN, ela relata o que viu na Avenida Paulista. Para a jornalista, Bolsonaro está acuado e busca "reação para sair do cerco" do Judiciário, no momento em que há investigações sobre rachadinha nos gabinetes de Carlos e Flávio Bolsonaro, corrupção na compra de vacinas e inquérito das fake news. |
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