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Sete de setembro: Manifestações Brasil afora, discursos com ameaças golpistas, pauta antidemocrática e pandemia ignorada




RESUMO DO DIA
Terça, 07/09/2021
 
Olá, boa noite! 🌛

A newsletter de hoje é temática. O aniversário de 199 anos da independência do Brasil foi um dia atípico, marcado por manifestações, a maioria a favor do presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaristas levaram às ruas uma série de pedidos, em grande parte inconstitucionais e antidemocráticos. Entre eles, a saída de ministros do STF, o fechamento do Congresso e a intervenção militar. Bolsonaro dicursou duas vezes, uma em Brasília e outra em São Paulo. E nas duas fez ameaças golpistas ao STF e, em especial, ao ministro Alexandre de Moraes. Também atacou o sistema eleitoral brasileiro e os governadores e prefeitos que se mobilizaram para impedir o avanço da Covid-19. Em cidades pelo Brasil inteiro, aliás, manifestantes ignoraram o crescimento da variante delta do coronavírus e se aglomerarm em grandes grupos, quase sempre sem máscara e sem seguir qualquer medida sanitária. Também houve atos contra o governo Bolsonaro, em defesa da democracia e pedindo vacinas, empregos e "comida no prato". 

Por aqui, Marcelo Sarkis e Cauê Muraro, editores do G1, e esses são alguns destaques desta terça-feira até agora.

Bolsonaro ataca Moraes, diz que não cumprirá decisões do ministro e que 'só Deus' o tira do cargo

Dois discursos, um em Brasília pela manhã e outro em São Paulo, à tarde, marcaram a participação do presidente Jair Bolsonaro mas manifestações do 7 de Setembro convocadas por ele. Foram falas inflamadas, de teor golpista e que ajudam a elevar a temperatura da crise institucional que o próprio presidente criou e tem alimentado. Primeiro, em Brasília , ele não citou nomes, disse que "uma pessoa específica da região dos três poderes" estava "barbarizando" a população e fazendo "prisões políticas". E ainda mandou recado para Luiz Fux, presidente do STF: "ou o chefe desse poder enquadra o seu [ministro] ou esse poder pode sofrer aquilo que nós não queremos". Pois o "mistério" durou pouco. Horas mais tarde, na avenida Paulista , ele deu nome ao principal alvo: "qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou". Em frente a apoiadores, Bolsonaro também atacou governadores e prefeitos que tomaram medidas de combate ao coronavírus. Voltou a pedir o voto impresso e colocou em dúvida o sistema eleitoral brasileiro: "não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança". No fim do discurso, voltou a dizer que "só Deus o tira de lá [Presidência]". E que não vai ser preso: "[só saio] preso, morto ou com vitória". "Dizer aos canalhas que eu nunca serei preso."  

Pois é

Principal alvo de Bolsonaro, Alexandre de Moraes é responsável pelo inquérito que investiga o financiamento e organização de atos contra as instituições e a democracia e pelo qual já determinou prisões de aliados do presidente e de militantes bolsonaristas. Além disso, o ministro determinou a inclusão de Bolsonaro como investigado no inquérito das fake news e mandou investigar o presidente por vazamento de informações sigilosas da PF. E tem mais: Moares será presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano que vem, durante as eleições que Bolsonaro tanto tenta desacreditar. Em uma rede social, o ministro disse que "nesse Sete de Setembro, comemoramos nossa Independência, que garantiu nossa Liberdade e que somente se fortalece com absoluto respeito a Democracia".

Vale lembrar 

Os atos de hoje convocados por Bolsonaro aconteceram em meio a uma grave crise econômica e em um momento difícil para os brasileiros, com o litro da gasolina passando dos R$ 7 em vários estados, inflação em alta e desemprego acima dos 14%. Também antecederam os atos uma série de embates entre o presidente e o STF e a queda da popularidade de Bolsonaro nas pesquisas de opinião. Leia mais sobre o o contexto das manifestações do 7 de Setembro.  

Vacina, empregos e comida

Protestos contra Bolsonaro e a crise econômica também marcaram o feriado. As pessoas pediam impeachment, vacina, emprego e "comida no prato". O maior deles foi em SP, o Grito dos Excluídos, que acontece anualmente. 

Bloqueio furado

Na noite de ontem, por volta das 20h, bolsonaristas furaram um bloqueio da Polícia Militar e invadiram a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. De acordo com o planejado, o esquema de segurança do governo do Distrito Federal não permitiria a entrada de veículos no local. Mas caminhoneiros (e manifestantes em geral) pressionaram policiais para ultrapassar o bloqueio e conseguir acesso. Grades de segurança ao longo da via foram retiradas pelo grupo.   

Conselho da República

Lá pelas tantas, no discurso de Brasília, pela manhã, Bolsonaro disse: "amanhã estarei no Conselho da República juntamente com ministros para nós, juntamente com o presidente da Câmara [Arthur Lira], do Senado [Rodrigo Pacheco] e do Supremo Tribunal Federal [Luiz Fux], com essa fotografia de vocês, mostrar para onde nós todos devemos ir". Pois é. O Conselho da República é um órgão comandado pelo presidente que tem, por definição, a prerrogativa de tratar de "intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio" e também de "questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas". Entenda.

Faltou combinar 

Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados disseram não ter conhecimento da reunião do Conselho da República anunciada para amanhã. E mais. Embora Bolsonaro tenha mencionado o STF, o tribunal não tem representante no conselho. Integram o órgão:

➡️ O vice-presidente da República
➡️ Os presidentes da Câmara e do Senado
➡️ Os líderes da minoria e da maioria da Câmara e do Senado
➡️ O ministro da Justiça
➡️ Seis cidadãos – dois escolhidos pelo presidente, dois pela Câmara e dois pelo Senado .  

E o Queiroz apareceu

Ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz foi às ruas do Rio em apoio ao presidente. Queiroz, que é investigado no caso das "rachadinhas" e chegou a ser preso, foi tietado e posou para fotos. Também abraçou o deputado Otoni de Paula, investigado por atos contra a democracia.  

Doria pede impeachment 

O governador de São Paulo, João Doria, manifestou-se pela primeira vez pelo impeachment de Bolsonaro. "Minha posição é pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro – depois do que ouvi hoje ele claramente afronta a Constituição", afirmou Doria. A executiva nacional do PSDB se reúne amanhã para definir oposição ao governo federal e discutir a posição do partido sobre um eventual pedido de impeachment. 

Mídia estrangeira destaca 'prelúdio de golpe'

Jornais de vários lugares do mundo publicaram textos em que explicaram o contexto em que acontecem as manifestações a favor do governo de Jair Bolsonaro. O "New York Times", por exemplo, diz que o presidente brasileiro tem enfrentado uma queda nas taxas de aprovação, uma economia que cambaleia e investigações judiciais e, nesse contexto, convocou as manifestações. Diz que os atos podem ser o prelúdio de uma tentativa de golpe. O "La Nación", da Argentina, escreveu que Bolsonaro promove uma "forte ameaça" à Justiça brasileira. A repercussão completa você confere aqui

Faixas em inglês

Em meio a mensagens inconstitucionais, chamaram a atenção cartazes em inglês. Muitas vezes com erros, diziam coisas como "Brazil says no Comunism" (Brasil diz não comunismo) e "Supreme court torn the constitution of Brazil" (A suprema corte rasgou a Constituição). Havia ainda frases em alemão, francês e italiano.

Balanço 

Até o fechamento desta newsletter, foram registrados protestos a favor do presidente em 179 cidades, incluindo todas as 27 capitais. Os atos contrários a Bolsonaro aconteceram em 84 cidades, sendo 26 capitais (a exceção foi Palmas). No G1, você confere, claro, todas as atualizações e o balanço final.  

O ASSUNTO

No dia em que colocou o bloco na rua, escalou ameaças à democracia e disse que não vai seguir determinações de Alexandre de Moraes, o presidente da República "ensaiou as várias vias que pode seguir", avalia Maria Cristina Fernandes, convidada de Renata Lo Prete no episódio de amanhã. Colunista do jornal "Valor Econômico" e comentarista da Rádio CBN, ela relata o que viu na Avenida Paulista. Para a jornalista, Bolsonaro está acuado e busca "reação para sair do cerco" do Judiciário, no momento em que há investigações sobre rachadinha nos gabinetes de Carlos e Flávio Bolsonaro, corrupção na compra de vacinas e inquérito das fake news.



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