SZ: De que cidade e Estado é a banda?
r : Somos a Rua Babilônia, de Catanduva SP.
SZ: Como foi a ideia de montar uma banda?
r : A ideia surgiu através um grupo de amigos que já participaram de outras bandas no
passado, sempre que nos reuníamos, o assunto era lembrado. Além disso, percebemos que
Catanduva não possuía uma banda com as características da Rua Babilônia, apesar das diversas
e excelentes bandas e músicos existentes.
SZ: Nos conte como foi o primeiro ensaio?
r : Não lembro a data exata, mas o primeiro ensaio ocorreu entre os anos de 2016 e 2017, e
teve altos e baixos afinal, era a primeira vez que nos reuníamos de fato. Além disso, o nome da
banda não era Rua Babilônia, era “Feios, sujos e malvados”, nome esse que fazia alusão ao
filme homônimo de 1976, dirigido por Ettore Scola. Naquele primeiro ensaio, nos dedicamos a
apenas covers de bandas nacionais e, claro, muita cerveja. Apesar de um primeiro ensaio
relativamente bom, a banda não continuou com a mesma formação e a partir daí, houve uma
reformulação entre seus integrantes, mudança de nome e estilo, também passamos a nos
dedicar às músicas autorais quase que exclusivamente.
SZ: Porque Rua Babilônia? Nos conte como foi escolher o nome.
r: Porque Rua Babilônia? A banda já estava formada, porém, não havia um nome de consenso.
Eis que, certa vez, em uma confraternização entre amigos, decidimos homenagear uma das
atrações turísticas da cidade de Catanduva e das cidades de prefixo 017, na verdade, essa
atração é uma espécie de Rua Augusta catanduvense (risos).
SZ: Conte um pouco sobre o estilo da banda?
r : Nos consideramos uma banda de rock and roll com grande influência do punk rock. Nossas
letras expõe os problemas sociais do nosso país e de nossa realidade, entretanto, utilizamos o
sarcasmo e a ironia para realizar essas críticas.
SZ: Qual é a formação atual?
r : Atualmente a banda é formada por José Valadares nos vocais, André Mendes na bateria,
José Dotto no contrabaixo e backing vocal e Rogério Terron na guitarra e backing vocal;
SZ: Quem já tocou na banda e porque saiu?
r : Enquanto Rua Babilônia, tivemos Ricardo Pereira no contrabaixo e Sandro Garuzi, o Caveira,
na bateria. Ambos participaram efetivamente durante os anos iniciais da banda e suas saídas
se deram por motivos pessoais de cada um. Atualmente existe uma grande amizade entre os
ex integrantes e a banda.
SZ: Quais as influências de cada integrante?
r: São influências variadas, diversos estilos se misturam. José Valadares teve muitas influências
no rock nacional da década de 1970 e de bandas punk nacionais como Replicantes, por
exemplo, assim como influências das bandas clássicas como Rolling Stones, The Clash, New
York Dolls, The Stooges entre outras. Já nosso baterista André também possui diversas
influências, entre elas, Ramones, AC/DC, Iron Maiden, Deep Purple e Metállica. José Dotto, por
sua vez, possui um estilo musical muito eclético, vai desde rock clássico até bandas de
Hardcore, como Ratos de Porão, porém, sua maior influência se encontra na riquíssima obra
do Led Zeppelin. E nosso guitarrista Rogério Terron, também possui um gosto eclético, gosta
desde a mpb até as bandas de metal extremo, entretanto, sua grande influência na guitarra
vem de bandas nacionais, como Camisa de Vênus, Golpe de Estado e Replicantes.
SZ: Qual a maior influência da banda apenas uma?
r: Nossa maior influência é o rock nacional, sobretudo as bandas que utilizam o sarcasmo para
comentar e/ou criticar nossa atual sociedade.
SZ: Defina o que é uma banda?
r: No nosso caso, um grupo de amigos que possuem objetivos em comum, que são: fazer
músicas, nos divertir e expressar nossa insatisfação em relação ao mundo contemporâneo e a
realidade individual de cada um.
SZ: Como se sustenta a banda no mercado nacional?
r : Acredito que atualmente não se pensa mais em um mercado nacional e/ou mercado
consumidor, haja visto que as mídias físicas caíram em desuso e shows estão ficando cada vez
mais raros. Outros estilos possuem mais espaços e investimentos de diversos setores alheios à
música, investimentos esses com diversas finalidades. Portanto, grande parte das bandas
iniciantes sobrevivem pela luta de seus integrantes e pelos seus próprios investimentos.
SZ: Como era a cena musical na sua cidade antes da pandemia e como é agora?
r : Catanduva possui uma história rica quando o assunto é bandas de rock, dezenas de bandas
surgiram em diversos bairros da cidade, além disso, havia muitos lugares onde as bandas
tinham espaço para se apresentar e mostrar seu trabalho. Também vale destacar grandes
bandas internacionais que passaram pela cidade, como, por exemplo, Helloween, Kreator,
Mercyfull Fate, Exodus, Gamma Ray, Misfits, entre outras consideradas gigantes no cenário
nacional e internacional. Atualmente, Catanduva ainda possui uma gama de bandas e músicos
competentes que ainda mantém a chama do rock and roll e a história musical da cidade viva.
Entretanto, há de se notar que muitos músicos optaram por fazer apenas covers de grandes
bandas, fato esse, acredito, esteja ligado a questão econômica, uma vez que bares, pubs e
outros locais investem mais nessas bandas pois o retorno financeiro e o público é quase
garantido, em contrapartida, bandas com músicas autorais são prejudicadas nesse cenário.
SZ: O que a banda fez durante a pandemia?
r: Nos reunimos algumas vezes, sempre respeitando as orientações da OMS (Organização
Mundial da Saúde), além de utilizarmos o tempo recluso para compor novas músicas e
discutirmos, muitas vezes de forma virtual, novas ideias para a banda.
SZ: Comente a cena independente do Brasil?
r: A cena independente no Brasil é extremamente rica, em todos os estilos. Porém, apesar de
rica, não existe espaço nas mídias tradicionais, essas optam por estilos mais comercias, o que
não está errado se analisarmos essa situação sob a ótica mercadológica. Nesse sentido, há de
se destacar a internet que, atualmente, tornou-se o maior veículo de difusão da arte,
sobretudo da música independente. Estamos presenciando uma mudança histórica nos meios
de comunicação, mudança essa também observada na história recente do Brasil, ora, o até
então insubstituível rádio, que estava presente em praticamente todos os lares brasileiros
durante a década de 1920 e, sobretudo, a década de 1930, fora substituído pela televisão.
Durante as décadas seguintes, a TV dominou os lares e o acesso à informação, também fora
responsável pela divulgação de diversos estilos artísticos e, entre tais estilos, a música. Nesse
sentido, parte dos gostos musicais de nossa geração e da geração passada, fora moldado pela
TV. Hoje, esse fenômeno está intrinsicamente ligado à internet, portanto, estamos
presenciando um fenômeno, a substituição da TV pela internet.
SZ: Como será o mercado musical daqui a 10 anos?
r : Pensando no ponto de vista mercadológico, não é possível visualizar um futuro promissor,
uma vez que as mídias físicas já caíram em desuso há algumas décadas e, para o músico que
procura sobreviver de sua arte, os shows são fundamentais. Porém, shows com bandas novas
e com músicas autorais estão ficando cada vez mais raros, uma vez que, pela facilidade de
acesso aos clássicos mundiais, as pessoas preferem assistir a apresentação de uma banda
cover, afinal, conhecem as músicas, do que assistir a um show de uma banda ou de um músico
autoral, nesse sentido, temos um paradoxo, a internet ajuda a divulgar a cena independente,
ao mesmo tempo, ajuda a diminuir o público de tal cena.
SZ: O que é preciso para ter sucesso?
r: O sucesso é relativo, as bandas independentes não podem pensar em sucesso como bandas
clássicas, são contextos e épocas diferentes. Porém, os músicos precisam divulgar sua obra e,
para isso, investimentos em marketing digital, redes sociais, presenças em shows e, se
possível, inovar! A inovação desperta a curiosidade. Particularmente prefiro um show com
uma banda que tenha um visual diferente, presença de palco ou um conceito em suas letras,
do que bandas que tocarão aquilo que todos sabem e conhecem, o famoso “mais do mesmo”.
SZ: Quais os projetos para 2024?
r: A Rua Babilônia está em constante processo de mudanças, temos um single e um clipe
lançado de forma independente (https://www.youtube.com/watch?v=XM_GyThi5vo) e já
estamos preparando para entrar em estúdio novamente. Além disso, estamos preparando o
lançamento de mais uma música com clipe e, quem sabe, lançar uma mídia física, indo na
contramão do que está acontecendo. Também estamos pensando, em breve, realizarmos uma
live e, quem sabe, abrir um canal para outras bandas se apresentarem em nossas páginas...
Mas isso ainda está em processo de planejamento.
SZ: O Rock ainda é uma filosofia de vida ou está manipulado pela mídia?
r: O rock, assim como qualquer outro estilo, foi aproveitado economicamente pela mídia,
sobretudo durante a década de 1980, mas não acredito que tal estilo fora manipulado, uma
vez que, durante esse período, surgiram centenas de bandas, comerciais ou não, e muitas
delas tiveram espaço para aparecer. Isso sem contar as bandas anteriores à década de 1980,
como Made in Brazil, Casa das Máquinas, Mutantes, entre outras. Quanto a questão de rock
como filosofia, talvez a afirmação correta seria o rock como um estilo de vida e não uma
filosofia, nesse caso, a afirmação torna-se muito abstrata, haja visto que existem milhares de
bandas de rock e milhares de estilos cuja principal vertente é o rock.
SZ: Como você vê a música no cenário nacional?
r: O Brasil possui uma riqueza cultural imensa e, partindo dessa premissa, apesar de alguns
estilos não se enquadrar em meus gostos pessoais, é um erro muito grande afirmar que tais
estilos não são cultura, devemos lembrar sempre que cultura é aquilo que foi criado por um
determinado povo, uma identidade, então, sim, todos os estilos são cultura! Acreditar que
cultura é somente aquilo que gostamos é um erro muito grande. Posso citar o exemplo do
samba que durante as primeiras décadas do século XX era visto, por uma elite econômica,
como música de malandro, de bandido, que mexia com a sexualidade, entre outras formas
pejorativas, atualmente, percebemos o mesmo discurso sobre estilos musicais nascidos na
periferia.
SZ: Onde foi o primeiro evento que tocaram e qual foi a reação do público?
r: Foi em um bar no centro da cidade, dividimos o palco com outra banda catanduvense. Por
ser nossa primeira apresentação, ocorreram alguns erros técnicos durante a apresentação e,
confesso, nem procuramos saber qual foi a reação do público, assim evita o estresse (risos)
SZ: Qual o futuro dos Festivais?
r: Se depender das bandas e dos músicos, festivais underground sempre existirão, quando as
oportunidades aparecem, eles estão lá para participar e/ou, somente prestigiar. Entretanto, se
depender do poder público e sua burocracia, os festivais underground estão fadados a
terminar. Talvez a discussão necessária nesse momento são os locais disponíveis para
apresentação das bandas.
SZ: Como é o processo de criação das músicas da banda?
r : Nossas músicas e nossas letras são criadas a partir de uma determinada situação, seja
pessoal ou seja social. Optamos por utilizar o sarcasmo e a acidez em nossas composições para
demonstrar uma insatisfação e/ou uma situação. Tudo parte de uma ideia, dessa ideia surge as
primeiras estrofes e, a partir daí, os primeiros acordes vão surgindo.
SZ: Já gravaram? Como foi a ideia, gravação e produção das músicas?
r: Sim, gravamos. A ideia foi registrar nossa obra, carimbar o nome Rua Babilônia, a banda
(risos), na história de Catanduva. Gravamos de várias formas, profissionalmente ou não, como
vocês podem conferir em nossa página no YouTube
(https://www.youtube.com/@ruababiloniarockandroll3821)... Ah, para você que está lendo,
aproveite e curta nossos vídeos e, principalmente, se inscreve em nosso cana, vamos dar uma
força ao underground e ao som autoral.
SZ: Deixe alguma mensagem para quem está formando ou pensando em formar uma banda.
r: Peguem seus instrumentos, sua força de vontade e façam o que vocês gostam, não se
preocupem com o que falarão sobre sua banda.
SZ: Considerações finais.
r: Em nome da Rua Babilônia, gostaria de agradecer espaço no zine, são atitudes como essa
que mantém a chama do underground acesa. Obrigado
E-Mail: rogerterron@gmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/ruababiloniarockandroll
YouTube: https://www.youtube.com/@ruababiloniarockandroll3821
Instagram: @ruababilonia
Assista ao nosso clipe “Céu ou Inferno”
https://www.youtube.com/watch?v=XM_GyThi5vo
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Opaaaa, muito bom!
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